sábado, 26 de dezembro de 2015

Bola de água e sabão

Sou bola de sabão, transparente, em quem reflete as cores do arco-íris, as cores dos que passam, dos que riem, dos que sonham, dos que acreditam...
Sou bola de sabão, sem vontade própria, que gira ao sabor do vento, da vontade dos outros, ora redonda e melodiosa, ora concova e obtusa.
Sou bola de sabão, que vaidosamente rodopia quando os teus olhos pequeninos me observam com admiração e ternura, a mesma magia com que outrora outros me olharam e onde hoje nada vislumbro, para além do vazio.
Sou bola de sabão, que gota a gota se desfaz, lágrimas que avizinham um fim melancólico, triste, penoso. 
Sou bola de sabão prestes a rebentar, num gesto libertador, que será apenas o princípio do fim!!!

domingo, 6 de dezembro de 2015

Vamos lá a pôr a escrita em dia...

Há quase três meses que não escrevo.
Todo o silêncio mudo tem uma explicação e está longe de me agradar este silêncio calado... dura há demasiado tempo!
Os dias foram passando, o tempo correndo, e torna-se cada vez mais difícil despertar deste adormecimento trôpego que não me interessa, que não interessa a ninguém.
Já vários me perguntaram quando voltaria a escrever. Calculo que alguns tenham apenas a curiosidade de entender o porquê de quase três meses de afastamento. De facto, não há uma razão que o explique, nem palavras faladas nem tão pouco palavras escritas. Só sei que os dias passaram e deixei de priorizar. Se senti falta?! Sim! Muitas vezes! Escrever sobre futilidades faz-me bem. Escrever sobre a futilidade que é a minha vida faz-me sentir viva, faz-me dar valor ao que tenho e construí, faz-me reviver memórias.
Não sei se hoje quebro o silêncio, nem tão pouco se irei compensar o tempo que perdi (em quase três meses tanto se passou e tão pouco, afinal, mudou!) mas foi dado um primeiro passo, agora há que pôr a escrita em dia! 

sábado, 28 de novembro de 2015

Então é Natal!

Lá por casa já cheira a Natal. Os miúdos andam numa excitação só.
A árvore montou-se este ano mais cedo, em anos anteriores fazem-lo sempre no feriado de 8 de dezembro dias antes do meu aniversário e do dela, mas este ano não quisemos deixar cair a tradição de a fazermos juntos, e por isso antecipamos. Por incrível que pareça ficou a sensação de que este ano foi mais simples que todos os outros, talvez o facto se deva a mais umas mãozinhas pequeninas que ajudaram e à alegria contagiante de quem pela primeira vez deu realmente valor a este momento tão nosso.
Nesse dia, apesar da nostalgia de saber que te iria ver partir mais uma vez no dia seguinte, houve música de Natal como é tradição. Não faltaram risos, mimos e até choros. É incrível como eles são o que somos, o que lhes passamos. Como prezam palavras como família, como lhes brilham os olhos quando falamos da noite de Natal, como lembram pormenores passados vividos em família nessa noite, como são inocentes e sonhadores e acreditam nas histórias cor de rosa que contamos, e perspicazes em perceber que por trás da alegria deste momento a falta de algumas pessoas especiais tornam esta tradição tão dolorosa.
Continuo a sentir que apesar de tantas vezes nos afastarmos continuamos unidos. Que tu continuas a ser o papá cúmplice, de lutas e mimos, e nós os eternos namorados que os nossos filhos observam com ternura e orgulho (até algum ciúme!).

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

As nossas férias com sabor a pipoca e gelado

Tiveram sabor a férias de verdade. 
Senti-lhes o sabor a pouco, contudo, mais houvessem mais esse sabor se intensificaria tenho a certeza. Foram duas semanas e meia maravilhosas, tantas vezes a quatro, tantas outras como gostamos, com família alargada, rodeados de amigos e pessoas que nos enchem o coração.
Brincamos muito; desfrutamos uns dos outros; regalamos os olhos, a barriga e o coração; perdemos medos, porque juntos somos capazes de tudo (até de enfrentar uma piscina sozinhos); deixamos que o sol tostasse ligeiramente a nossa pele; tiramos sonecas embalados pela música das ondas; comemos gelados (mais do que o devido, mas férias também é sinónimo de excessos); fizemos pipocas, e mais pipocas, e mais pipocas; e namoramos, inesperadamente a dois, sem filhos, com conversas de adulto, numa cumplicidade muito nossa (abençoado Kids Club).
Á medida que os dias passavam um travo agridoce, uma mistura "de foi tão bom, mas está a acabar" foi assombrando o meu coração e, num abrir e fechar de olhos, voltamos a despedir-nos e a sentir mais uma vez a dor da separação. Felizmente os miúdos gerem cada vez melhor essa obrigação, bem melhor do que nós que carregamos esse peso nos olhos, nos gestos, no dia-a-dia.
Hoje, passados 15 dias,recordo com saudade e uma nostalgia boa esses momentos tão felizes, e deixo que o meu coração se alimente dessas boas lembranças. Enquanto isso, encontramos a bengala perfeita, e estamos já a planear a próxima paragem a quatro. 

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Voltas e reviravoltas... nós por cá!

Foram ótimas as férias, para variar! Como tudo o que é bom, acabaram depressa demais, mais ainda porque aqui, na nossa casa, final de férias é sinónimo de voltar ao modo "sobreviver". 
Ouvir o barulho preguiçoso das rodinhas de uma mala pelo corredor, sentir um beijo triste que me desperta de madrugada, ouvir o som irritante da porta de nossa casa que bate, quando aqui só resta um silêncio entristecedor que por momentos paira no ar e tempestuosamente cai sobre mim e me faz não mais dormir. 
A nossa felicidade parte contigo, escapou por uma frincha que percebo procuraste evitar. Foste! Mais uma vez! Atrás desta sei que virão outras e outras e outras... e que mais um ano para nós começa! 
Contigo vão os momentos tão bons que passamos juntos durante três preciosas semanas, para mim ficam as recordações que religiosamente procuro guardar e preservar no meu "disco rígido". Sei que precisarei de reviver alguns desses momentos aqui ou ali, quando a saudade for maior.
Comigo ficam as gargalhadas, a cumplicidade que apesar de tudo continua, o amor tão fortalecido, tão doce e terno, tão nosso. Comigo fica uma parte de ti, e contigo deixo que leves uma parte de mim.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Férias precisam-se!

O sol das manhãs entra todos os dias pela minha janela e confesso que é com o ar mais preguiçoso e mais aborrecido que me recuso a abrir os olhos. Instintivamente dou uma palmada raivosa no despertador que teima em tocar e peço mais 5 minutos, e depois mais 5, e logo de seguida mais 5... e contam-se já mais de 7 dias nesta luta em que sempre vencida e o tempo vencedor.
Estou a precisar de férias! Meeeesmo! 
Já não é cansaço físico que sinto (sinceramente quase já não sinto o corpo), a sensação que tenho é de que a minha alma (paciente e bondosa quase sempre) não está com pachorra para aturar as solicitações alheias.
Foram oito meses difíceis! Muito desafiantes, que me encheram tantas vezes as medidas, que testaram as minhas capacidades não raras vezes ao limite, que ora me empolgaram ora me fizeram desesperar... mas também muito exigentes, que me fizeram muitas vezes esquecer as prioridades e correr corredores lado a lado com a palavra remorsos (de mãe, que são os piores!). Oito meses de uma carga emocional pesada, de dias em que não raras vezes o apetite de 1 a 10 era zero e as dores de cabeça insuportáveis numa escala de 1 a 10 foram 11. Resumidamente foram 8 meses sem férias (dois dias colados ao fim-de-semana não contam) que me fazem suspirar pela pausa bem merecida.
Quero praia, quero sol na cara, quero brincadeiras na areia com direito a castelos de areia e pernas subterradas, quero bolas de praia e todas as delícias que me cairão (estou certa) na barriga sem remorsos, quero tardes de piscina e noites sem ter que preocupar-me com o jantar, quero sentir o teu corpo com cheirinho a férias no caribé (apesar de apenas termos descido a sul), quero umas mãos pequeninas a passar-me creme protetor nas costas, quero deixar de sentir saudades e voltar a sentir-nos família, quero comer gelados e rir muito... no fundo, resumidamente, quero apenas voltar a sentir-me viva. Sentir que nestas veias ainda corre um sangue fervilhante e que não sou um cyborg fora de validade que age metodicamente, que já não surpreende ninguém, nem a si mesma!
Férias precisam-se e deixemo-nos de conversa! Pode ser?

quarta-feira, 29 de julho de 2015

O que adoro demais em ti!

Ainda agora fiquei sem ti e já tenho saudades.
Hoje pediste para dormir em casa da avó e fui incapaz de dizer que não aos teus olhos esbugalhados e ao sorriso desejoso da tua avó em desfrutar de ti. 
O teu irmão dorme e eu estou aqui nas pesquisas noturnas que faço diariamente, uma tentativa frustrada de adormecer. Encontro um vídeo que me fez lembrar de ti e o aperto do meu coração é agora gigante. O vosso quarto sem ti é vazio e a minha cama cheia de uma saudade apertada.
Vejo e revejo imagens do tempo em que as tuas pernas eram pequeninas, as tuas mãos rechonchudas e o teu cabelo cachos de anjo. 
As tuas imagens passam e vejo como cresceste filha! Os meus olhos brilham de uma emoção frustrada. Não gostava mais de ti naquela altura do que gosto hoje, pelo contrário, o meu amor por ti, a minha adoração por cada pormenor do teu ser, cresce diariamente contigo, mas confesso-me saudosa deste teu eu ido, um eu que foi muito meu, que me dava mimos a toda a hora, que transmitia uma alegria explosiva, que adormecia no meu colo como se fosse o meu regaço o único sítio do mundo seguro para um ser tão pequenino.
Naquela altura, no vídeo, terias cerca da idade atual do teu irmão, cerca de 3 anos, talvez um pouco menos, mas eras já muito despachada, a alegria em pessoa, uma pequena coquete que já avizinhava poder vir a ser uma bailarina exemplar. 
Sei que hoje a nossa vida é diferente mas continuo a olhar para ti da mesma forma deslumbrada, com a mesma paixão do primeiro dia, incrédula de que algo tão perfeito tenha sido concebido e gerado por mim.
A minha esperança, o meu esforço diário é criar algo tão bonito por dentro como és por fora... 
Adoro o teu sorriso, desdentado e tão doce! 
A tua alegria explosiva e que faz vibrar todos à tua volta! 
Adoro as tuas cantigas desafinadas e os teus bailaricos com piqué tour en dehors e grand pliés.
Adoro o teu ar teatreiro, de cabeça de cartaz de uma qualquer revista novelesca do Sá da Bandeira. 
Adoro as tuas saídas de gente pequena que já sabe o que diz e faz corar todos os que te rodeiam à gargalhada.
Adoro a tua inocência de quem nada sabe da vida e o teu nariz empinado que pensa que tudo sabe.
Adoro as tuas saias rodadas e os teus tops às florinhas, recordam-me sempre que ainda és uma menina apesar de ver-te crescer tão depressa.
Adoro a tua trança e os teus cabelos brilhantes, os teus grandes laços coloridos e o teu olhar a pedir mimo.
Adoro tudo em ti M. e acredito que és um anjo que veio à terra apenas para me tornar melhor pessoa.

domingo, 12 de julho de 2015

É boca doce e é bom!

Sempre gostei mais de salgados que de doces mas já é bem velhinho o ditado que diz que "o doce nunca amargou" e, vai daí, que depois de um domingo a três (sem avós e sem pai), um domingo de pequeno almoço em casa, almoço em casa, sesta em casa... decidi surpreendê-los com um lanche fora de casa, e fora de regras e fora de horas, ou seja, um final de dia muito "out". E foi bom! Foi delicioso! Foi boca doce para esta mãe que, apesar de gostar mais de salgados, baba com a doçura dos sorrisos mais mimalhos e mais felizes lá de casa.
Para ti J. pai, nunca habituados a viver sem ti mas sobrevivendo!

terça-feira, 7 de julho de 2015

Over the rainbow

O orgulho que eu tenho de ti, do teu ar responsável mesmo conhecendo bem quando o teu coração pequenino bate cheio de receios e medos.
Estarei sempre, para ti M.,
 "num qualquer lugar para além do arco-íris"
Outro dia disseste que eu sou uma estrela na tua vida mas eu tenho orgulho em ser apenas um pirilampo que brilha orientando o teu caminho, tornando-o luminoso e pontapeando qualquer receio ou medo. Mas sabes pequena M. a estrela na nossa vida és tu filha e hoje provaste-o mais uma vez... foste tu a estrela que mais brilhou fazendo resplandescer os olhos de todos e enchendo-os de um brilho choroso de orgulho e vaidade.
Há momentos, sentada naquela casa tão grande, e que este ano conta mais três anos que tu, reuni em mim toda a concentração do mundo. Esqueci que nesta casa (tão grande) éramos muitos, senti que éramos apenas nós, eu e tu, como tantas vezes o fomos numa sala bem mais pequena que esta mas muito mais acolhedora (a nossa, da nossa casa) e, por momentos, recordei os dias em que chegada da escola não te apetecia tocar (15 minutos apenas que fossem). Recordei ainda a pouca vontade que tinha em ouvir-te, durante escassos 15 minutos sentada, porque tinha a panela da sopa a reclamar lá da cozinha ou apenas porque também eu, depois de um dia de trabalho exaustivo, queria apenas este sofá, silencioso e melancólico, sem ter que pensar se o dedo 1 ou 3 estavam pousados e na fita certa, e se o teu clic clac estava perfeito sem lembrar pés de bailarina vaidosa.
Não foi um percurso fácil, para ambas. Mas chegaste filha, e conseguiste! As flores são tuas, o mérito é muito mais teu que meu, mas confesso que para além do orgulho que senti em ver como cresceste e evoluíste, senti um orgulho enorme em mim (desculpa a falta de modéstia), por ter conseguido não desistir de fazer-te conseguir, por todas as corridas contra o tempo, por todas as manhãs de sábado que deixei de dormir apesar do cansaço, pelas vezes em que me atrasei para os almoços de família ao sábado e não consegui evitar as caras feias do avó. Conseguiste filha! E conseguiste-o tão bem! Permite-me que diga que consegui também. Deixa-me brindar contigo... deixa-me pendurar orgulhosamente uma foto da nossa cumplicidade! Muito bem, visto o meu rosto de cinzento, que não é preto nem branco, não é cor nenhuma  mas respeito... esquece a foto! Abraça-me então apenas e segreda-me ao ouvido um obrigada. Ou então, não! Não o digas, olha apenas o profundo do meus olhos e deixa que leia essa palavra segredada no mais profundo dos teus. Parabéns minha pequena violinista. 

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Eu ainda sou do tempo...

Eu ainda sou do tempo em que o S. João juntava amigos e família à volta de uma fogueira de sardinhas que deixam pingar gordura na broa, e da fêvera de porco dentro do pão acompanhada por salada de pimento bem temperada.
Eu ainda sou do tempo em que todos fazíamos roda à volta de um balão de papel de seda colorido e cada um mandava bitates sobre o ar quente e o ar frio que o vai deixar subir sem uma queda tristonha.
Eu ainda sou do tempo das cascatas S. Joaninas, com bonecos comprados a 100 escudos no Senhor de Matosinhos, que juntava crianças e adultos num corropio alegre e desprendido.
Eu ainda sou do tempo de ver as ruas enfeitadas com bandeiras e balões coloridos e flores de papel feitas por mãos pequeninas que todos os dias à noite se juntavam às gargalhadas.
Eu ainda sou do tempo em que paus de vassoura davam lugar a arcos de S. João e vozes de meninos e meninas alegravam ruas de concórdia e fraternidade numa marcha militar ensaiada. 
Eu ainda sou do tempo dos bailaricos de lambada e dos comboios humanos que juntavam três gerações.
Eu ainda sou do tempo do jogo do copo para as meninas solteiras, acompanhado de uma reza melancólica ao dito santo, para arranjar "um bom partido".
Eu ainda sou do tempo dos trevos de quatro folhas serem uma sorte mais sortuda quando encontrados nesta noite de alegria e folia. 
Eu ainda sou do tempo, em que o tempo era tempo... Hoje, só peço tempo para tentar recordá-lo e revivê-lo ao vosso lado M. e J.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

As coisas que eles ainda não sabem

Meus amores pequeninos,
Vocês não sabem que são fruto de um amor com mais de uma década, que começou com dois miúdos (um de dezassete e uma de dezasseis anos) que não sabiam nada da vida mas sabiam que queriam ficar juntos – sim, esses miúdos (a que chamam pais) com quem vivem agora.
Vocês não sabem como os astros tiveram de se alinhar e o pai e a mãe tiveram de crescer para estarem prontos para receber-vos... primeiro um - a menina tão ansiosamente esperada, o primeiro filho fruto deste grande amor - e, passado quatro anos o outro - um anjinho frágil e tão pequenino, que nos fez acreditar que quando todas as portas se fecham e à nossa volta é só escuridão há sempre uma saída para a luz... e desde esses dias não paramos de crescer e aprender, diariamente, convosco.

Vocês não sabem como foi desejada e planeada a vossa chegada, como a nossa vida recomeçou depois de cada um de vós ter entrada nas nossas vidas – dois dias tão diferentes - um em pleno inverno de dezembro e outro num começo de primavera de praia e gelado -, uma experiência primeira que se prolongou até à noite e que horas me relaxava ao sabor das páginas de um livro e outras horas me fez querer desistir de sofrer; uma outra segunda que chegou tão de mansinho, de forma tão singular e relaxada e que da forma mais natural em menos de três minutos me fez sentir de nova uma alegria maior partilhada com quem mais merecia. 

Vocês não sabem, mas deixem que vos segrede, eram dois bebés tão pequeninos, tão igualmente amados desde o primeiro dia e tão diferentes desde o primeiro momento. A barriga da mãe, durante 39 semanas, de ambas as vezes, foi crescendo, ora envergonhada ora descarada e vaidosa. Da primeira vez cresceu de forma arredondada sem espaço para crescer mais e tu M. nasceste redondinha, espevitada e disposta a enfrentar o mundo; da segunda, fez-se mimosa e empinada, pequena em comparação, mas sempre muito mexida. Tivemos medo muitas vezes por ti J., porque ganhavas pouco peso de cada vez, porque eras tão pequenino e porque tinhas imensa vontade de conhecer o mundo para além da minha barriga – felizmente hoje estão longe essas preocupações, cresceste cá fora, ao teu ritmo e que bom é respirar de alívio.
Vocês não sabem como era mágico ver-vos dançar dentro da minha barriga, mesmo nem sempre tendo espaço para grandes rodopios, e nem imaginam como já vos amava e acariciava nessa altura.
Não sabes M. como és parecida com o pai e que já nas ecografias eu adivinhava que eras a cara dele – se tiveres também o seu bom coração e optimismo então tens meio caminho andado para seres feliz.
E tu J. não sabes como vejo em ti uma mistura do melhor de nós, desacreditando muitas vezes como é possível o filho tão desejado do teu avó ter nascido neto e teres tantas coisas que me lembra esse homem que tanto admiro.
Vocês não sabem que o pai e a mãe são os melhores amigos um do outro e que isso faz toda a diferença porque nos conhecemos como ninguém – e que rezo todos os dias para que cada um de vós tenha a sorte de encontrar alguém assim, que vos complete.
Vocês não sabem que todos os dias, os pequenos obstáculos que ultrapassam, na escola ou em casa, são desafios que vos ajudam a crescer – as vossas conquistas são a minha alegria e inspiração e é tão bom ver que não desistem, reconhecer a vossa persistência e empenho.
Vocês não sabem o número de noites que fiquei acordada porque choravam a minha ausência ou se queixavam com dores de barriga. Hoje as dores de barriga continuam, na minha ausência ouço pés de guizo que caminham até à minha cama e acresce a tudo isto o receio da porta não fechada e do "mau" a entrar pelo buraco da fechadura.
Vocês não sabem, mas J. o facto de acordares sempre a sorrir é um prenúncio de muitos acordares felizes que te esperam – espero que nunca mudes - e M. esse teu ar sonolento de todas as manhãs é resultado da tua vontade crescente de ler mais um capítulo do teu livro (agora que aprendeste a juntar letras e formar palavras não queres outra. E eu adoro ouvir-te ler!)
Vocês não sabem que quando grito "ataque de cócegas!" o que quero realmente dizer é "a mãe preciso de mimo!" pois sei que mais cócega menos cócega, no final, receberei dois abraços gigantes e acabaremos os três deitados na minha cama às gargalhadas. 
Vocês não sabem que vão apaixonar-se muitas vezes e que nessa altura o amor do pai e da mãe irá parecer menor, que vão achar ter a certeza de tudo, achar-se muito crescidos e que nós não sabemos nada – todos nós o fizemos e, se calhar, vão ter de nos lembrar disso mesmo.
Vocês não sabem o quanto vão errar – e só assim aprender.
Vocês não sabem que vão sofrer por amor – e como depois tudo isso passa.
Vocês não sabem como vos vai custar perder amigos que achavam eternos – mas os que ficam vão fazer tudo valer a pena.
Vocês não sabem como vai ser bom quando uma música ou um cheiro vos fizer viajar no tempo – viagens boas, viagens más, viagens…
Vocês não sabem como é possível falar sem palavras – apesar de o fazerem todos os dias.
Vocês não sabem o valor do perdão – e de como a vida é muito mais fácil quando deixamos o que não importa lá atrás.
Vocês não sabem que vão amar muitas pessoas de formas muito diferentes – e que vai haver sempre espaço para todas.
Vocês não sabem que vão sentir saudades e algumas vezes chorar por sentir falta de alguém – e que isso significa que esse alguém é ou foi muito importante para vós.
Vocês não sabem como estarmos perto pode tranquilizar o dia mais agitado – o mais parecido é o que sentem quando choram e nos vêem chegar ao pé de vós.
Ainda não sabem como o simples facto de existirem torna o dia de tantos de nós mais feliz – pais, avós, tios, padrinhos, é só escolherem.
Vocês não sabem como esperei toda a minha vida por vos ter ao meu lado.
Mas vão saber. A mãe encarrega-se disso.
(adaptação do texto de Marta Coelho, "As coisas que a minha filha ainda não sabe")

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Sempre nós, nós para sempre!

O nosso sonho continua, apesar das lágrimas da partida, suportando custosamente o aperto da saudade. 
É bom saber que o "nós" continua de saúde!


quarta-feira, 3 de junho de 2015

Menininha do meu coração

Menina boneca, de trança morena dá-me um abraço, não tenhas vergonha. 
Não olhes a sombra, menina garota, e não te afastes do meu abraço. Tens tempo de entrar na escola sozinha, a mochila é pesada para caminhares sem a minha mão.
Menina catita, que salta num pé, de dedos de fora e bolhas escarlate - cor da teimosia -, é cedo ainda para trocares a sandália inglesa pelas havaianas metálicas. 
Menina princesa, de grande laço cor-de-rosa no cabelo e unhas pintadas em tom pastel, empresta-me o teu ouvido e deixa que te conte um segredo.
Menina traquina, de palmo e meio de altura, mete o orgulho no bolso e pede a minha ajuda. Mãe é mãe, e ajuda de mãe não se recusa!
Menina cachucha, de dentes de leite e cara rosada, dá-me um abraço... não digas mais nada!

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Família, a minha de que me orgulho muito

Aprendi a sentir família com os meus pais, com a minha irmã, também com os meus avós, ao sabor dos cornetos de morango nas tardes de domingo e da cevada com biscoitos nas noites de inverno na cama da avó.
Aprendi que família se protege, sempre, doa a quem doer, mesmo que nos doa e bastante a nós.
Aprendi que família chora junta, ri junta, faz jantares e patuscadas junta...
Aprendi que família não passa a mão na cabeça quando estamos errados antes nos orienta, ou talvez repreende, mas jamais nos vira as costas.
Aprendi que família não sente os conselhos como crítica ou desrespeito, aceita-os da mesma forma que aceita o ombro amigo que ampara as nossas lágrimas ou a ajuda num episódio de crise.
Aprendi que família não mente, ninguém nos conhece melhor por isso para quê usar máscaras?!
Aprendi que família é sermos também pais tomando o lugar de outros que já o foram, asneirar como eles, sentir que as pedras suspensas no ar desde a adolescência nos caem sem ressentimentos na cabeça.
Aprendi que família é e continuará a ser sempre, para a nossa família, o porto de abrigo, o norte e o sul (e todos os pontos cardeais), a meta e a chegada, o bilhete de ida e volta com data não caducável.
Não somos ricos, nem temos a pretensão de sermos melhores que ninguém pois a vida para nós é apenas um caminho de aprendizagem... somos apenas família, querem maior riqueza que esta?!

quinta-feira, 14 de maio de 2015

M. à procura da Polaris

Há dias assim filha, em que me sinto tão perdida como tu. Em que não entendo porque não chega todo o bem que te faço, em que a esperança de um dia feliz se esgota no último minuto. 
Olho-te nos olhos M. e vejo que estás perdida, como um barco sem norte que navega pela força da maré... Há dias em que me sinto exatamente assim, talvez por isso saiba ler nos teus olhos os que os meus tantas vezes tentam esconder.
Sei que escreveres o que te angustia nas páginas Violetta do teu diário pindérico não minimiza o que te faz doer a alma, menos ainda resolve os teus problemas... Sei que tens razão, amanhã quando acordares tudo estará como ontem - na nossa casa, na escola, na nossa vida rotineira. Não sou mágica, muito menos fada madrinha do conto Cinderela, como mãe as tuas angústias são divididas comigo e tento nesses casos que fiques com a menor parte. Fazer rasgar o teu sorriso bem-disposto é o meu maior desafio diário na mesma medida em que procuro reduzir os teus ataques de insegurança e fúria, que vão chegando num crescendo angustiante... 
Tento amar-te no pouco tempo que nos resta depois das obrigações diárias - depois de TPC's, banhos, jantar e xixi, cama... Mas sei que um amor não substitui outro e que o espaço livre no teu coração faz-se ver nas tuas atitudes, no teu choro constante, na tua falta de confiança e auto-estima, nas palavras duras que proferes sem pensar.
Estás magoada, eu entendo isso. Os motivos são fortes para uma criança de apenas 7 anos que devia saber o significado das palavras amor, família, união, amizade e vive diariamente com uma palavra cravada no coração - saudade. Mas sabes querida, magoar os que te amam, afasta-los de ti vai doer-te ainda mais. 
Doce M. que recordo alegre e ternurenta, volta, estás perdoada! 

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Pedras no sapato e um castelo no infinito

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
Mas não esqueço de que minha vida
É a maior empresa do mundo…
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
Se tornar um autor da própria história…
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
Um oásis no recôndito da sua alma…
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “Não”!!!
É ter segurança para receber uma crítica,
Mesmo que injusta…

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…
                                                                                         (Fernando Pessoa)
Para ti filha, o meu conselho para a vida!

domingo, 3 de maio de 2015

M de mãe

Estou a aprender a ser uma nova mãe. Uma mãe sozinha com dois, que ainda resiste a programar o que fazer fora de casa sem ser a quatro, a quem cada lugar e cada cheiro tem sabor a nostalgia.
Estou a aprender a ser uma mãe que chapina mesmo quando a água do mar está gelada, que joga à bola e faz golo e vos pega às cavalitas sem um queixume. 
Estou a aprender a ser uma mãe de avental e colher de pau, que vos lambuza de beijos e vos faz pedir bis.
Estou a aprender a ser menos mãe-galinha, uma mãe que deixa brincar e tentar receando, no entanto, que se possam magoar.
Estou a aprender a ser uma mãe de sete ofícios, que ora rodopia num passo de ballet clássico ora finge perceber muito de acordes e escalas musicais.
Estou a aprender a ser uma nova mãe, consciente de que o teu lugar de pai ninguém o preenche nem eu tão pouco faço pretensões disso. 

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Mãe, ajudas-me num projeto de engenharia?

- Mãe, tens uma caixa de sapatos que não precises?
- Sim... então para quê?
- Tenho um projeto com polímeros para fazer. Ajudas-me?!
- Claro querida. Então e que tipo de projeto?
- O meu quarto... dentro da caixa!
- What?! Estou feita, penso. 
O resultado final não ficou nada mal... a isto chama-se trabalho de equipa ;)
Uma casa de bonecas bem gira!
Tem cortinas, toucador e claro em cima da mesa de cabeceira "O Meu diário"...

quinta-feira, 30 de abril de 2015

My mother's day wish... time to be a mom

Podia esperar pérolas ou diamantes, ou um jantar num dos poucos restaurantes com estrela, ou ainda aquele lenço de seda que me fez desviar o olhar de vós por 30 segundos, mas não, hoje, no dia do ano em que sou lembrada pelo estatuto de maior responsabilidade que tenho, peço TEMPO... tempo que estique e dure além das 24 horas, tempo de qualidade convosco que me faça dar gargalhadas de alegria, que faça bater aceleradamente o meu coração de tanta emoção, que me faça esquecer estas dores de cabeça constantes, esta carência de afetos, este cansaço permanente... TEMPO... o vosso, o meu... sem televisão e ipad, sem a obrigação dos TPC ou do estudo para os testes intermédios. Tempo nosso, de trotinete e bicicleta, de bola de futebol e espetáculos faz-de-conta, de bailaricos e palhaçadas, de beijos e abraços doces - mais doces e suculentos que morangos colhidos numa tarde de verão.
Neste Dia da Mãe quero lembrar o dia em que adquiri este estatuto (sem prazo de validade mas que me acompanhará mesmo um dia em que eu passe desde mundo para outro). O dia em que o repeti e chorei de novo de alegria, aquele em que novamente senti um amor gigante a invadir todo o meu corpo e esqueci o mundo lá fora. Quero lembrar a ternura de que vesti o meu olhar nesses dois dias, e nos seguintes, do enamoramento, do deslumbramento com que nos olhávamos.
Este ano, neste dia especial para mim e para tantas outras mães, quero agradecer a benção de aprender convosco todos os dias, quero agradecer a pessoa melhor que sou depois que vocês nasceram - mais sensível às causas dos outros porque o meu umbigo é apenas um (e pequeno) num mundo com tantos outros e bem maiores que o meu.
Quero TEMPO! Pode ser?! Um bem precioso que não custa dinheiro. TEMPO para passar a minha mão pelo teu cabelo M. e ver como ele jia cresceu desde a última vez em que o cortaste. TEMPO para não perceber tarde demais que tu J. já dás pontapés com a bola no ar e marcas golos de cabeça. TEMPO para sentir que sou boa mãe, não apenas porque ajudo nas tarefas obrigatórias e compro o livro que me pediste ou te ofereço um carrinho vermelho que é a tua cara, mas porque tive tempo para deitar-me na vossa cama e contar uma das minhas histórias inventadas de quintas e feijões mágicos, florestas e casas com cheiro a bolinhos de canela... TEMPO... sem pressões, sem horários, sem importar-me se é dia se é noite, se está frio ou calor, se comeram mais saudavelmente ou comeram só porcarias deliciosas.
O fim-de-semana antecipou esta minha forte necessidade, e por isso muniu-se de tempo. E que melhor presente me podia ser dado?! O próximo fim-de-semana será nosso, com tempo, e irá valer muito a pena, com certeza, porque ideias já não nos faltam.
Aqui ficam algumas sugestões para mães que como eu pedem tempo de cumplicidade e mimo, querem experiências de amor embrulhadas com laço de seda dentro de uma caixa reciclável de cartão.

domingo, 26 de abril de 2015

A minha Maria que no altar brilhou

Estiveste feliz, e ver-te feliz para mim é fundamentalmente importante.
Quero lá saber se o dia estava frio, se antes uns minutos de saires de casa chovia a cântaros e branco e dias de chuva não combinam (muito menos sabrinas brancas e poças de chuva).
Há quem defenda que os desejos de um criança de bom coração são ordens e têm prioridade máxima lá em cima. Racionalmente, olhando telejornais e páginas de FB, não sei se acredito, mas hoje, neste dia especial, em que as crenças e o meu lado espiritual devem falam mais alto, fica-me bem achar que sim. E verdade ou coincidência, às 15 o sol sentiu o teu pé a espreitar fora da porta e decidiu soprar as nuvens e varrer a chuva. A tarde acabou por manter-se com uma temperatura agradável e o teu vestido branco (que tanto desejaste - simples, cavado e com um grande laçarote) brilhou contigo.
Não falaste de outra coisa a semana toda. Salientaste a responsabilidade acrescida que tinhas - fazer a primeira leitura da Eucaristia - e lembraste que te tinham escolhido por seres a menina do segundo ano que melhor lê... mas sei que na verdade gostas é de fazer bem e bonito, principalmente quando todos os olhares estão sob ti. 
E, na verdade, fizeste bem, fizeste bonito, fizeste-o com responsabilidade, com entusiasmo, com inocência. Neste dia de festa tão especial, em que recebeste a oração que mais gosto de rezar e que recuso rezar à pressa, sem sentir cada palavra, estiveste ainda mais linda. 
Sou uma mãe babada! Resta-me dormir e rezar um Pai Nosso por ti, para que a vida te sorria sempre como tu sorris para ela.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Oh mãe! Vamos ter tomates a crescer na varanda?!

A Primavera chegou e com ela a vontade de estar mais tempo em contacto com a natureza e com tudo de bom que ela nos dá. 
Este é o momento perfeito para começar a cuidar mais de mim, das minhas vontades, dos meus tempos livres (mesmo que com filhos), da nossa casa, dos passeios ao parque e à beira-mar, dos lanches e picnics... e porque não de um jardim ou horta. 
A semana passada ver a alegria do meu filho a plantar morangos com o meu pai fez-me repescar uma ideia antiga. Porque não?! Eles iam adorar! A M. ficaria felicíssima... e o J. pularia de alegria! É claro que dará trabalho, sujará varanda... mas também dará tanta coisa! Tantos momentos de alegria e, ao que parece, um estado "zen" de descontração recomendável. Por isso, senhoras e senhoras, bora lá a colocar em prática o sonho de ter uma horta cá em casa (o sonho da mãe mas principalmente dos meninos).
E, se à partida podemos pensar que o facto de morar num apartamento é um entrave, rapidamente percebo que as soluções são imensas. Ter uma horta urbana na varanda está mesmo na moda e, por isso, as soluções que podemos encontrar são inúmeras. Acima de tudo é preciso ter um pouco de criatividade e pensamento positivo pois acabaremos por descobrir que tudo é possível!
Tomilho, cebolinho, hortelã, salsa, manjericão, alecrim (aos molhos), rabanetes, tomates e morangos, são algumas das ervas aromáticas e legumes que escolhemos plantar. 
Tenho a certeza que o cultivo feito a seis mãos (grandes, médias e pequeninas) dará muito e bom fruto. 



E hoje a carne para o jantar foi temperada
com os segredos da nossa horta!
Sabe bem dizê-lo, mas sabe ainda melhor comê-lo.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Contado ninguém acredita!

Hoje aconteceu-me a coisa mais estranha de que me lembro!
Escrevo-o aqui e arrepiam-se os poucos pêlos claros dos meus braços... sinto um aperto no peito que me põe de lágrimas nos olhos... e, por vezes, penso se tudo não terá passado de um episódio inacreditável. Se me contassem dificilmente acreditaria que coincidências tão grandes pudessem realmente acontecer.
Um episódio inacreditável aconteceu hoje nas nossas vidas e confesso que o escrevo para jamais dele me esquecer... escrevo-o para que também vocês, meus filhos, um dia possam lê-lo e relê-lo e buscar aqui um pouco de esperança, que este seja para vós um sinal de que algo existe para além de nós, da nossa vontade, do que nos é expectável...
Não sei se foi um sinal, ou apenas uma coincidência gigante, mas hoje, três anos depois de tu "meu raio de luz" nasceres na minha vida, um raio de esperança reacendeu o meu coração e, fez-me acreditar mais do que nunca, que uma presença de esperança e amor existe nas nossas vidas.
A semana passada, enquanto preparava a tua festa de aniversário J. tive uma ideia magnífica. Senti que devia no dia do teu aniversário proporcionar um momento breve de felicidade não apenas a ti mas a algum menino que como tu tivesse nascido nesse dia e que mais do que nunca precisasse de um mimo especial. Queria conhecer um menino que como tu tivesse nascido a 26 de março.
Com a ligação forte que criei com o Projeto O Joãozinho confesso que logo pensei em contactar a minha querida amiga Ana e pedir-lhe ajuda. Hesitei a princípio, confesso! Primeiro porque tinha consciência de que o que procurava era uma agulha no palheiro e depois porque receava o turbulhar de emoções que do meu desejo pudesse advir. 
Costumo dizer que tenho uma estrela bem forte lá em cima a cuidar de mim... digo-o por vezes a brincar, mas hoje digo-o convictamente e certa de que ela realmente existe.
Na sexta-feira da semana passada contactei a Ana, que gentilmente acedeu ao meu pedido, salvaguardando, no entanto, que poderia ser difícil conseguir a sua concretização. Terça-feira liga-me e, ela própria um pouco incrédula, informa-me que tinha dado entrada no Hospital Pediátrico um menino de sete anos que dia 26 de março faria 8 anos de idade. Um menino também do Norte do país que infelizmente iríamos conhecer não pelos melhores motivos e cuja mãe estaria, com certeza, de coração apertadinho rezando para que o seu filhote rapidamente volte para casa. 
Confesso que já não esperava aquele telefonema... no meu coração instalou-se uma emoção e alegria enormes mas também uma dúvida crescente. O meu coração pedia-me este gesto mas a minha cabeça recuava com incertezas. Cheguei a casa e informei os meus pequenos do meu propósito... ficaram super entusiasmados e hoje lá fomos. Depois de uma longa sesta do J. (que quase nos fez desistir) lá fomos nós - eu, a M. e o próprio J. - conhecer o menino que também estava de parabéns. Os meus filhos estiveram sempre entusiasmados. O J. já dizia que ia conhecer um amigo e a M. queria muito conhecer a casa do Joãozinho... durante a nossa curta viagem até ao HSJ muitas foram as perguntas e tão poucas as respostas. Nem eu sabia bem o que lá ia fazer, apenas uma vontade ao meu coração. Connosco levamos presentes nas mãos e um carinho e uma bondade enorme no coração. 
Eu própria, ali, naquele hospital do Porto tinha recebido um presente há 3 anos. Haveria melhor forma de agradecer esta benção?!
Mas o inacreditável ainda estaria para acontecer! Chegamos e fomos muito bem recebidos... rapidamente percebemos que naquela casa cheia de amor para além do Joãozinho que lhe dá nome, e do meu próprio, um outro João se juntaria a nós - o menino que ali estávamos para visitar... Que feliz coincidência! Um Joãozinho que há oito anos atrás encheu o coração de uma mãe de alegria, tal qual aconteceu comigo neste dia há 3 anos. Mas, coincidência maior estaria para vir. Este João, de boné na cabeça e livro do Luís Figo na mão, também tinha um segundo nome igualzinho ao do meu J. Não consegui evitar a surpresa! Fiquei emocionada e feliz por termos conseguido ali estar. Olhando ali o pequeno e regula João, com um cateter na mão e tantas incertezas nos olhos, e tantos outros "joões, franciscos, pedros..." deitados naquelas camas, vi o quão felizarda sou. Um menino de apenas 8 anos obrigado a deixar a sua casa e festejar o seu oitavo aniversário longe dos abraços da família, das risadas dos amigos. Ele que com certeza gostaria de estar a correr no jardim e a marcar muitos golos, tal qual o meu J., com os olhos brilhantes de sonhos e uma cabecinha cheia de vontades. 
Claro que a mãe do reguila João primeiro estranhou a nossa presença. Pudera coitada, não nos conhecia de lado nenhum! Percebendo o que me motivava foi amorosa em receber-nos e foi com emoção que nos recebeu.
As emoções cresciam à medida que íamos falando... Houve momentos em que as minhas pernas tremeram, em que receei a forma como podia ser recebida, em que tive dúvidas se os meus filhos compreenderiam o propósito da minha iniciativa, em que questionei se fria sentido invadir um momento tão intimo de uma família desconhecida... hoje fico feliz por tê-lo feito! Os meus filhos compreenderam que não são únicos no mundo, que este dia é deles mas também de outros meninos como eles, que infelizmente muitos desses meninos não esperam presentes mas mimo, meninos que no dia do seu aniversário não vestem roupa nova, não sopram velas nem estão em casa a preparar uma festa com balões e foguetes... 
Fi-lo de coração aberto e com humildade. Quis que tu meu bebé mimalho presenteasses e não fosse apenas presenteado, que percebesses que é tão bom dar como receber e que este dia não se enfeita de cor e alegria para todos os meninos. Sei que provavelmente és pequeno demais para perceber a grandeza do nosso gesto, mas a minha esperança é de que um dia percebas meu anjo, o menino abençoado que és e a mãe abençoada que todos os dias me fazes.
O reguila João tem uma irmã de 4 anos e é verdade tem o mesmo nome que a minha filha (primeiro e segundo nome)! Mais uma coincidência inexplicável!
Tentei perceber melhor o que tinha levado o reguila João, adepto do FCPorto e uma fã do Luís Figo, à casa do Joãozinho e percebi que aquela mãe tem motivos para tanta humildade. O seu olhar é carregado de esperança, angústia e fala o que a sua boca é obrigada a calar. 
Felicidades pequeno João, estou certa de que na tua longa vida irás marcar muitos golos de vitória. Até à próxima.

1, 2, 3 vai nascer outra vez

E já conto três anos. 
De mimos, de abraços com cheirinho a bebé, de beijos cá e beijos lá, de um amor partilhado sem ciúme, de malandrices e conquistas diárias.
Três anos! De fios de cabelo loiros, de pele branca e macia, de bochechas rosadas e olhos amendoados.
Três anos de pés rechonchudos, de olhos atentos e que se abrem ao dia com ternura, de dedo que é chucha e chucha que mete medo, de palavras de amor que disse sem resposta e que hoje, passados 3 anos, me retribuis como potes de mel.
Três anos que parecem dias que correram desenfreados... de boas memórias - perfumadas, audíveis, saborosas, calorosas. Três anos, que já foram três meses, e já foram três dias... e que hoje és tu, assim tão perfeitamente perfeito, tão diferente e tão igual ao primeiro dia em que me apaixonei por ti!

quinta-feira, 19 de março de 2015

Eis a palavra que te define

Podias ser amoroso, lindo, brincalhão... Podias ser estas e muitas mais palavras bonitas que tão bem te definiriam, mas hoje J. vi num gigante coração, feito de centenas de corações pequeninos, a palavra que melhor te define e que a tua filha, de apenas 7 anos, escolheu para ti - escrita num coração da sua cor preferida (descobre lá qual é?!)
Uma pista - um coração rosa no meio de tantos vermelhos...
a palavra tem começa por A e tem 8 letras! Só podia!

Uma palavra que abarca tantas outras, que dita em voz alta, ou sussurrada ao ouvido, faz entender que não és uma coisa pequena. Uma palavra que faz recordar momentos - de brincadeira, de cócegas e de beijinhos, de amor e mimo, de noites de aconchego e histórias contadas de forma ensonada e sem entoação, de abraços de saudade forçados e risadas na praia, de olhos brilhantes de orgulho pelas conquistas e lágrimas que avizinham a partida...
Mesmo longe, mesmo que substituído por um avó que de coração apertado e lágrimas nos olhos marca presença nas atividades do Dia do Pai do colégio, ela nunca se esquece de ti. 
Obrigada J. por nos fazeres feliz, por seres um pai presente ainda que na ausência geográfica, por me lembrares que sou a melhor mãe do mundo e que te dei o melhor presente do mundo, duas vezes - a benção de ser PAI!
Feliz Dia do Pai...

terça-feira, 10 de março de 2015

Em modo ser feliz

Não foi preciso mais do que o suficiente. 
Não fizemos questão que fossem férias, até porque as obrigações não nos permitiam, apenas dois dias só para nós - os quatro -, numa tentativa mais que conseguida de respirar família, transpirar família, sentirmos afinal, que somos ainda aquilo que sempre quisemos construir - família.
Em dois dias o relógio parou, os sorrisos voltaram, as gargalhadas de fazer vir as lágrimas aos olhos eram como cerejas. Houve tempo para tudo... para comer bem, para relaxar da melhor forma, para ensinar aos mais novos como andar de bicicleta e relembrar aos mais crescidos um hábito que nunca se esquece.
De cara lavada, sem os milagres do tokalon a ajudar a uma tez perfeita e só de felicidade estampada no rosto, voltamos a ser felizes. Os olhos durante dois dias foram mais brilhantes, nos ombros deixamos de carregar toneladas, nos sonos houveram sonhos e nos sonhos as histórias tiveram final feliz.
Diz o ditado que o que é bom acaba depressa. Quem diz que a voz do povo não é a voz da verdade que se desengane! Pela madrugada a nostalgia voltou. Melancólica, pesada, saudosa, tristonha... No meu coração memórias de uma felicidade banhada de amor e a esperança confiante de que não poderá tardar o próximo break down.

domingo, 8 de março de 2015

Mãe, perfeitamente imperfeita

Posso não ser a mãe mais bonita do mundo - não tenho uma cabeleira longa e farta, uns lábios carnudos e de um escarlate sexy, não tenho as unhas sempre impecáveis dignas de me permitir calar a boca e falar apenas por gestos.
Posso não ser a mãe mais fashion de entre as mães que vão buscar as suas filhas à escolinha ao final do dia (aliás, deve ser até das mais engrenhadas porque não ando, corro, numa tentativa sempre frustrada de não deixar que o relógio passe muito para além das 6 da tarde. E correr de stilleto, convenhamos, não é propriamente a coisa mais fácil do mundo, por isso prefiro uma bota rasa ou um sapato de tacão que aguente).
Posso não ter os olhos mais lindos do mundo - castanhos escuros, pestanudos, desenhados a pincel ponta de agulha - os meus são até bastante banais - castanhos amêndoa, descaídos e com umas pestaninhas pouco fartas e volumosas (vai-me valendo a descoberta nº 1 dos rímeis que por aí andam).
Posso pouco perceber de música e não saber tocar nenhum instrumento de cordas na perfeição, como posso não saber a letra de todas as canções do Panda.
Posso não ser calma e ponderada - sei que falo alto demais, berro demais, stresso demais, estou sempre cansada demais.
Posso nem sempre ter a resposta certa para todas as vossas dúvidas, não ser um ás a matemática, não saber de cor e salteado todas as regras gramaticais e desconhecer por completo qual a capital do Sri Lanka sem recorrer à wikipédia.
Posso não ser a mãe que mais participa nas atividades da escolinha e a que faz os bolos mais perfeitos e bem decorados do mundo. Provavelmente lembrar-se-ão de mim porque já esqueci o fato do ballet ou equipamento de futebol na vossa mochila mais vezes do que gostaria ou porque repeti o lanche dois ou três dias seguidos e a menina não aguenta comer mais pão com fiambre. 
Posso não saber beber ou comer um sorvete sem me sujar, nunca encontrar nada na minha carteira (e quase sentar-me no chão de cabeça enfiada a procurar uma coisa qualquer, no meio de tantas coisas sem significado), posso conversar demais e preocupar-me demasiado com a vida dos outros, posso não gostar de ir ao médico e alimentar-me pouco.
Porém filhos, apesar de todas as qualidades que a vossa mãe imperfeita não tem, sei que um dia irão fechar os olhos e sentir a maciez da minha mão que segurou a vossa, todos os dias no regresso a casa, depois de um dia de escola exaustivo. Sei que escutarão a minha voz cantando, enquanto um Manel joga à bola ou um João choraminga por um balão que sob pelo ar. Sei que um dia, lembrarão o cheiro e o liso dos meus cabelos, estes onde todos os dias, a todas as horas o mais pequeno de vós encontra o conforto para adormecer. Sei que lembrarão os disparates e as injustiças, mas também os beijos mais repenicados, simples mas sentidos, os mais sinceros e sem artifícios beijos que já alguma vez receberam. Sei que com saudade sentirão a falta destas mãos, que com unhas quebradiças e de um nude quase imperceptível, tantas vezes vos acariciaram a cabeça quando o João Pestana começava a pesar os vossos ternos olhos. Sei que notarão a nostalgia de cruzar estes olhos, pestanudos com Benefit ou de um escarlate sanguinário pela minha renite alérgica, mas que vos admiram com um amor imenso, maior que todo e qualquer outro, os mesmos que não vos perdem de vista nem por um segundo quando, inevitavelmente, sou obrigada a ir para a confusão de um qualquer shopping, a um domingo de manhã. 
Posso não ser realmente a mãe perfeita, que um dia os vossos perfeitos e ingénuos olhos escolheram, mas sabem filhos - minha adora M. e meu pequeno amor J. - esta mãe imperfeita, com tantos defeitos e tão poucas virtudes, fará sempre o possível e o impossível para merecer a perfeição do vosso eterno amor e fazer-vos viver melhor. Este meu cansaço diário é resultado de um esforço no sentido de que todos os dias da minha vida sejam para aproveitar cada momento da vossa vida. Quero esquecer a roupa a pedir ferro no estendal e apreciar a cambalhota do J. pequenino que ensinado pela irmã a faz tão bem. Quero lembrar como se anda de bicicleta e passear convosco aos domingos à tarde apreciando as vozes que gritam entusiasticamente "Mais rápido, mãe! Anda... mais rápido!".
Quero deixar de lado o ipad e voltar ao velho hábito de adormecermos com uma história encantadora que vos faz ter sonhos cor-de-rosa todas as noites. E deitar-me de barriga para baixo na vossa cama enquanto assistimos a um clássico da Disney juntos. 
Quero ser parte ativa das vossas preocupações e inseguranças mas também desta vida barulhenta e imprevisível que tenho deste que vocês dela fazem parte, saboreando cada momento, sem culpas, sem arrependimentos... certa de que não sou "uma super-heroína" mas de que me supero todos os dias.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Eles não sabem, nem sonham!

A decisão foi nossa... não foi tua, não foi minha, foi nossa! Pensada, refletida, chorada! Fez-nos perder noites de sono. Levantou uma parede de silêncio entre nós feita de perda e revolta. Calei-me, calaste-te... calamo-nos! Digerimos a decisão, com sofrimento, com desprezo... Eu procurei encontrar outras soluções. Confesso que, lá no fundo o meu coração procurou sempre uma luz ao fundo do túnel, uma solução milagrosa que me fizesse acordar deste pesadelo... mas não, não acordei, e desde então, conto bem mais de 365 dias, vivo no limbo.
Tivemos que dizer-lhes. 
Ele era demasiado pequeno para entender exatamente as consequências da nossa decisão, para ele o papá passou a viver numa casa na Argélia e vir à nossa de vez em quando. Começou a ver o pai através de um pequeno retângulo mágico, falava com ele, enviava beijinhos repenicados mas não lhe sentia o abraço. Sabíamos que a maior dificuldade seria explicar-lhe a ela. Fazê-la entender o porquê desta necessidade de nos separarmos geograficamente mas não no coração, nas vontades, nas decisões, nas vivências, na partilha. Foi difícil, muito difícil. Dos seus quase seis anos tivemos que a fazer entender que o pai continuaria a ser nosso, que continuaremos a ser família, e que jamais isso seria diferente. Chorou! Sim, chorou muito! Disfarçou o choro! Tentou ser mais crescida do que devia! Podia ter chorado sem esconder o rosto, sem disfarçar o beicinho, sem limitar as lágrimas sentidas que dos seus lindos olhos insistiam brotar. Sofreu! Sofreu muito! Com ela sofremos nós também. Com uma dor ainda maior que a dela, porque no nosso coração estava já alojada uma dor enorme - a dor da decisão!
Para nós esta não foi uma hipótese, não nos fez sonhar com casas à beira-mar ou viagens de sonho todos os anos. Para nós o sim, tão sofregamente revelado aos nossos filhos, escreveu-se com letra maiúscula e serigrafada, tem nomes próprios e vale por dois. Tão diferente do que é para eles! Um nome comum, que se sente, que se escreve em português e se ouve tantas vezes no fado, nome de perda, nome de saudade.
Passou-se quase um ano e meio e a dor continua... em mim, em ti, e nela. É uma dor que não se ultrapassa, vivida diariamente, que nos esgota até à exaustão, que horas nos ergue e horas nos leva ao fundo do mais profundo poço.
Hoje o som da minha gargalhadas é quase uma lembrança. Só os nossos filhos me fazem rir e resistir à vontade de tantas vezes chorar. Hoje, não olho o mundo com olhos de ver, como poderia?! Um mundo que obriga famílias a separem-se não pode ter a pretensão de ser apreciado. 
Sofro ainda muito, sim é verdade! Sofro com ela, nas angústias e nas alegrias de que não participas, sofro cada vez mais também com ele, que da sua pequenez já diz ter saudades do pai.
Não imagino a dor de quem parte, mas sei bem o sentimento de perda de quem fica! Sou eu que estou aqui e passo as mãos pela cabeça, que dou colo, que dou mimo por mim e por ti, que dou xarope quando a febre ou a tosse quer vencer, e preparo o biberão a meio da noite para compensar o mimo que lhes falta. Sou eu que estou aqui a educar, a orientar, a dar ralhetes quando é preciso... a pôr ordem na nossa casa que sem ti é menos acolhedora e mais fria. 
Há dias em que o sol parece querer romper por entre 50 sombras de cinzento, mas há difíceis... muito difíceis... dias em que todas as palavras sábias do mundo não são suficientes para dar resposta à perspicácia de uma criança. 
"Saiba que são suas decisões, e não suas condições, que determinam seu destino". Anthony Robbins