terça-feira, 23 de setembro de 2014

Calcular tempo sem tempo: nove vezes fora, nada!

Nunca fui excelente aluna a matemática, talvez por isso (mas não só) o caminho me tenha levado para a área de Humanidades, fugindo aos números e aos problemas (para problemas já basta os das nossas vidas!). Contudo, de uma coisa tenho a certeza, e não preciso de prova dos nove nem grandes contas de somar ou subtrair para perceber que, através de um cálculo mental simples, o meu tempo - o nosso tempo - está já destinado e calculado. E não falo de um cálculo a curto prazo, mas de anos longos de uma vida - a nossa.
Há quem diga que com o tempo eu me habituo, os miúdos se habituam, tu te habitues... treta! Não há quem se habitue! Eu não me habituei ainda, ao fim de um longo e desesperante ano - ver-te partir às segundas-feiras de madrugada e ver-te chegar 15 dias depois numa quinta-feira à noite é dose para cavalo e não para girico; os miúdos não se habituaram a sentir falta do pai e a matar saudades de 15 em 15 dias, durante um curto fim-de-semana, ou uma vez por mês quando não pode ser mais. Tu, estou certeza, não te habituaste ainda a viveres a tua família sem cheiro, sem toque, sem sabor, e apenas por detrás do ecrã de um computador, todos os dias quase à mesma hora (uma hora marcada) nos dias em que a internet nesse fim do mundo dá um ar da sua graça e enche a nossa casa de esperança. 
Não me habituei, não me habituarei e recuso a habituar-me! A suster a respiração durante mais de 20 dias por mês (não fala, não mexe, não respira...) e viver apenas 8 dias (... já está!)
E voltar a este ciclo uma, duas, três, quatro... vezes sem fim durante um ano.
Não foi isto que pensamos para nós. Não foi isto que pensamos para os nossos filhos. Não foi assim que sonhamos viver esta caminhada a dois.
Se tem que ser? Sim tem!
Se não há solução? Não não há, antes houvesse!
Se é por pouco tempo? Nem pensar... os meus cálculo mentais (para mim que nunca fui excelente aluna a matemática) só me dizem que 2+2 são quatro, que "a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa" e que este problema matemático não tem resultado à vista. Portanto, tirada a prova dos nove... nove vezes fora, nada!

domingo, 21 de setembro de 2014

Gosto de ti desde aqui até à lua

M. nada em ti há que eu não goste. Gosto de ti desde o dedão do teu pé até ao fio mais rebelde do teu cabelo. E a cada dia que passa os meus olhos de mãe vêem que cresces a uma velocidade alucinante, desesperadamente aflitiva e contigo cresce o meu amor... em altura, largura, comprimento e profundidade! 
Contigo cresce ainda uma saudade absurda de ti, filha! De abraçar-te no meu colo e sentir-te tão pequenina! De aplaudir os teus primeiros passos alinhados e a forma carinhosa como pela primeira vez chamaste por mim. 
Tenho saudades de ti, filha! De entrançar o teu cabelo sem horas rotineiras a impedir risadas e abraços! De abraços melosos e beijinhos à chinês e uns olhos gigantes que me olham de forma estrelar! 
Tenho saudades de ti, amor que de um milhão é o primeiro, que aprendi a gostar desde aqui até à lua.
Gostar mais de ti filha, é impossível! Gosto de tudo que fazes - as danças e contra-danças; as poses de violinista de nariz empinado e o clic-clac desajeitado; os desenhos com corações e flores cor de rosa com contornos exagerados; as brincadeiras de faz-de-conta em que vestes tantas vezes a minha pele; o jeito nervoso como dizes ok quando te chamam a atenção e vejo em ti a vontade de virar costas mas a obrigação responsável de ouvir até ao fim; o arregalar de olhos pestanudos quando ficas eufórica de alegria; a boquinha de cereja quando te aborrece ouvir as verdades - a verdade dói filha mas é sempre a melhor opção; o pestanejar de olhos digno de qualquer estrela de Hollywood quando para ti a conversa tem segundas, terceiras ou quartas intenções; até as tuas vontades próprias, tantas vezes para mim um embaraço, são o meu orgulho, porque mostram que tens opinião e não te conformas apenas com a opinião dos demais.
Um dia, quando eu for quase uma estrela (e junto da lua tu me contemplares com saudade) peço que gostes tanto das minhas danças e contra-danças desajeitadas pela idade como hoje gosto das tuas, que tenhas o amor e a paciência para as minhas "birras" como hoje eu tenho para as tuas, me olhes com a admiração e candura com que hoje os meus olhos observam todo o teu ser.
Amo-te meu amor número um.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

De volta às rotinas...

Acordamos cedo. De borboletas na barriga e um brilho no olhar nada ensonado.
Tudo preparado a tempo e horas de um primeiro dia curioso, excitante e de reencontros.
Ao final da manhã as borboletas na barriga voaram boca fora. Um primeiro dia que começou curioso e excitante e que ficou virado do avesso, com uma barriga do tipo montanha-russa, uns olhos teatrais - tristes e melosos - e uma cabeça - de cabelos ressequidos pelo sol que ostentam um te-ré-ré com cheiro a cloro de piscina e sabor a água do mar salgada -, recostada no meu ombro. 
Não foi o primeiro dia de escola perfeito, longe esteve de o ser, mas seguimos com a certeza de que dias melhores virão. Dias de muito trabalho - para ti querida M. e para mim -, de correrias e atrasos, de birras e culpas doridas, de emoções à flor da pele, de muitos sóis e caras sorridentes, de pulos, saltos, sorrisos vibrantes, de dias em que a vontade é quase baixar as armas e outros (muitos mais) em que a vontade é correr atrás e fazer sempre melhor.
Este é mais um dos primeiros dias da tua vida pequena e adorada M. e eu, tua mãe rabugenta, exigente, refilona, que tantas vezes grita em vez de falar, estarei sempre aqui, ao teu lado, a partilhar sorrisos e conquistas mas também oferecendo o meu ombro de mãe para os momentos mais teatrais da tua vida.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

De asas cor de rosa...

Desde anteontem que o mundo ficou menos cor de rosa. Não tenho qualquer dúvida disso. Sempre que uma princesa parte, leva consigo parte do encanto deste mundo. Acreditar que outro lugar ficou mais "pink" não é difícil, difícil é aceitar que a lei das coisas seja esta - cruel, que faz doer tão profundamente.
Sei que muitas "nonós", e muitos "afonsos", e muitas princesas e príncipes partem diariamente deste mundo... muitos mais são, até, aqueles que nunca viveram uma vida de conto de fada e cuja vida alguma vez teve cor ou brilho, mas, não sei se pelo nome, não sei se pela força que esta pequena traquina tinha, com ela foi-se um pouco da minha esperança.
Dirijo muitas vezes a minha voz a Deus, através das minhas orações... Falo com ele! Uma conversa unilateral claro, mas sei que ele me escuta e isso para mim basta. Sou crente! Sim, acredito em algo maior e mais forte que tudo isto à nossa volta, faço votos para que um dia, os meus filhos também respeitem essa força maior que tantas vezes nas noites nos alenta. 
Contudo, desde anteontem que estou especialmente triste com Deus. Essa tristeza está instalada no meu coração de mãe, que sofre quando lá por casa um simples corte no dedo acontece, daqueles por onde nem tripa fina nem tripa grossa cabe. Nenhuma mãe concebe dor maior que a dor de perder um filho!
Os meus filhos não são mais que os filhos de outras mães, são filhos, e isso explica tudo!
Princesas vestidas de longos vestidos cor de rosa, guerreiros de espada e escudo na mão, fazem muita falta por cá. Nenhum mundo sobrevive durante muito tempo sem a magia, sem a inocência que também nos caracterizou enquanto crianças, sem o brilho no olhar que lhes é característico e que tudo revela - a esperança, o amor, a alegria...
Estamos em modo de sobrevivência há tempo demais.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

O melhor do meu dia #23

Chegar ao fim de um dia de trabalho com a sensação de dever cumprido. É bom!!! É muito muito bom!!!
Como diz a cantiga "hoje foi o primeiro dia do resto da minha vida". Estou a exagerar claro! Mas deixo estas quatro paredes, a minha secretária, a porta por trás de mim, com um sentimento gratificante de dever cumprido. Na minha boca um travo deliciosamente saboreado de "yes, we did it". Sei que faltam ainda três dias para que tudo termine e possa respirar de alívio mais uma vez, depois de tantas vezes já respiradas e de tantas outras por respirar. Continuarei a correr corredores; a ouvir o tocar de chamadas desesperadas de SOS; a contar mais pessoas que lugares; a falar um inglês cada vez mais seguro, com muitas gaffes pelo meio e sempre muitos gestos à mistura; a engolir um pastel de bacalhau à hora de almoço; mas, depois de hoje, sinto que somos capazes de tudo.
É bom quando depois do esforço chega o reconhecimento. E não minto, é bom o reconhecimento dos outros, o abraço agradecido de quem tem a certeza estar em boas mãos e lê nos nossos olhos a vontade de fazer bem, e cada vez melhor, a segurança das afirmações, o negar do impossível. É bom sentir que vestimos a pele que melhor nos serve... eu gosto de a sentir em mim, acho que me fica bem e que faço boa figura nela.
Não costumo falar sobre a minha vida profissional neste espaço tão meu, tão pessoal, tão nosso... mas como não poderia fazê-lo hoje se é essa parte da minha vida que leva o meu sorriso para casa? Como não falar hoje do gozo que esta dá à minha vida? Da força com que faz tantas vezes pulsar o meu coração e sentir a adrenalina percorrer todo o meu corpo?
Felizmente gosto do que faço, talvez por vezes goste mais do que devia, mas é este também o sonho que comanda a minha vida.